Mineralóide é encontrado em sua forma multicolorida apenas no estado do Piauí e na Austrália.
A opala, pedra preciosa descoberta recentemente em Marte e que na Terra é encontrada em sua forma multicolorida apenas no Piauí e na Austrália, ainda é pouco explorada. Érico Gomes, geológo que e professor doutor no Instituto Federal do Piauí (IFPI), afirmou que a exploração e comercialização do mineralóide é feita na informalidade e que falta investimento para desenvolver o setor no Brasil.
“Não há uma política de investimento e pesquisa para desenvolvimento do setor na região. Talvez tenha tido nos anos 70, que foi o apogeu, chegando a ter a maior mina de opala no mundo, mas que foram exploradas por australianos. Eles levaram toneladas para a Austrália e lá foram vendidas como opalas australianas. Depois disso não houve mais investimento”, explicou.
Nasa descobre pedra preciosa em Marte
A descoberta recente de opala em Marte foi vista com entusiasmo pela comunidade científica por diversos motivos, como pela possibilidade da pedra, composta em parte por H₂O, poder ser diluída e liberar água.
“Como a opala é rica em água, pode-se quebrar a fórmula e extrair a água. Não sabemos se tem muita que possa fornecer para o homem, mas pode ter mais dentro das rochas e abaixo da superfície”, afirmou o professor.
Garimpeiro lava as pedras em busca de opala — Foto: Anay Cury
Além disso, o achado ressaltou a raridade desse mineralóide na Terra e o potencial ainda pouco explorado no Piauí, mais especificamente na cidade de Pedro II, 206 km ao Norte de Teresina e a 190km de Parnaíba, onde, segundo pesquisadores, apenas 10% da opala foi explorada.
“É uma pena, porque o Piauí tem um potencial enorme. Além da opala, há muitas cadeias produtivas de outras riquezas minerais, mas, infelizmente, os governos não ainda não viram isso”, afirmou o geólogo Érico Gomes.
Para o professor, a informalidade é um grande problema para o desenvolvimento da atividade na região. “Se você consultar o site do Ministério de Minas e Energia, da Agência Nacional de Mineração ou de exportação, não há registro de opala. A produção que já é pouca não é oficializada, então é como se não existisse, porque não tem registro, não tem pagamento de impostos”, disse.
“A gente vê que tem porque vê as lojinhas vendendo em Pedro II, mas não é recolhido o imposto de Compensação Financeira pela Exploração Mineral (Cfem), que é revertido para a prefeitura, para o estado, como ninguém recolhe, oficialmente nem conta, então é difícil até para criar uma política pública”, completou Érico Gomes.
Roça dos Pereiras, local onde foram encontradas as primeiras pedras de opala em Pedro II — Foto: TV Clube
Formação da opala
Esse mineralóide surgiu há mais de 200 milhões de anos, quando a Pangeia, supercontinente que compunha a superfície terrestre dos períodos Permiano ao Triássico, se fragmentou.
De acordo com o professor Érico Gomes, a fragmentação da placa sul-americana da africana proporcionou um vulcanismo. “Isso é encontrado nas bacias sedimentares paleozoicas, como a do Parnaíba, que é onde estamos”, disse.
“Ocorreu um magmatismo. O magma subiu através de falhas geológicas, fendas, e a larva não chegou até a superfície, ela ficou em subsuperfície, entre 2 a 4 km de profundidade, parando embaixo de um arenito, que continham muita água”, explicou.
O geólogo relatou que, se a água ferve a 100°C e a temperatura do magma é superior a mil graus, quando essa larva chegou embaixo do arenito, esquentou a rocha cheia de água e iniciou um ciclo.
“O magma esquentou a água, ela subiu, esfriou e desceu, esquentando de novo. Nesse movimento, quando ela está quente ela dissolve grãos do arenito, que são constituídos por grãos de quartzo. O quartzo por sua vez contém dióxido de silício, que deixa a água rica em sílica”, descreveu o professor.
O pesquisador disse ainda que quando o magma e a água resfriaram, a sílica ficou saturada no fluído e preencheu os espaços abertos existentes no arenito, formando a opala.
Sobre a descoberta em Marte o professor acredita que a importância se deve a mais uma comprovação que havia água livre em abundância no planeta, como outras pesquisas mostravam.
Beleza da pedra
Pedras de opala — Foto: Dennis Arias
O geólogo afirmou que a opala se destaca por sua raridade e beleza. “Ela é consagrada como a mais bonita da natureza, com essas cores que ficam ‘dançando’, digamos assim, na pedra. Não tem duas opalas iguais, então elas são raras e belas”, declarou.
Com a extração de opala em Pedro II, criou-se um mercado de confecção de joias. Aguns habitantes viram o potencial econômico da pedra e apostaram no setor de joalheria, como empresário Jucelino Araújo, que iniciou a atividade nos anos 90.
“Recebemos as opalas brutas e vamos fazendo a lapidação conforme a vocação delas, desde as mais humildes às mais preciosas, e direcionamos para o mercado”, contou.
Com isso, são confeccionados anéis, colares e brincos, por exemplo. É comum encontrar peças que façam referência ao Piauí e ao Brasil, facilmente encontradas em lojas de lembranças em pontos turísticos do estado.
Texto Lucas Marreiros – g1 PI
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